Última atualização: 15/12/2024
Na noite de 13 de dezembro de 2024, José Augusto Mota Silva, de 32 anos, faleceu enquanto aguardava atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Cidade de Deus, localizada na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O caso, que gerou grande comoção, escancarou falhas no atendimento de urgência e reacendeu a discussão sobre a importância da triagem adequada pelo protocolo de classificação de risco de Manchester.
A tragédia destacou não apenas problemas estruturais da saúde pública, mas também a necessidade de preparo técnico das equipes para identificar pacientes que precisam de atendimento imediato.
O Caso
José Augusto chegou à UPA queixando-se de fortes dores pelo corpo. Testemunhas afirmaram que ele permaneceu na recepção por um longo período sem receber atendimento adequado. Imagens de segurança mostram o momento em que ele desmaia, permanecendo desacordado em uma cadeira antes de ser socorrido.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que o paciente foi classificado por meio do protocolo de Manchester às 20h30 e que estava lúcido no momento de sua chegada. Pouco depois, ele foi encontrado inconsciente e transferido às pressas para a Sala Vermelha, onde sofreu uma parada cardiorrespiratória e, infelizmente, veio a óbito.
A Falha na Classificação de Risco
O protocolo de Manchester, amplamente utilizado no Brasil e no mundo, é um sistema de triagem que determina a gravidade do quadro do paciente e a prioridade do atendimento com base em cores, que vão do vermelho (emergência, atendimento imediato) ao azul (não urgente, espera tolerável).
Nesse caso, parece ter havido uma subavaliação inicial do quadro de José. Ele foi classificado de maneira que não refletia a urgência de seu estado, o que comprometeu o tempo de resposta da equipe. A falha em identificar os sinais de um quadro crítico como o dele foi decisiva para o desfecho trágico.
Especialistas em saúde destacam que uma triagem bem conduzida é essencial para salvar vidas em unidades de alta demanda. “A classificação de risco não é apenas um procedimento burocrático; ela é a base para priorizar atendimentos e alocar recursos de maneira eficiente em um ambiente com muitos pacientes e poucos profissionais”, explicou um médico emergencista.
Medidas e Reações
Após o ocorrido, o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, anunciou a demissão de todos os profissionais de plantão na UPA naquela noite. Os servidores serão submetidos a sindicâncias internas e denunciados aos conselhos de suas respectivas categorias.
Soranz classificou o caso como “inadmissível” e afirmou que a falta de percepção da gravidade do quadro de José Augusto foi um erro inaceitável. Ele prometeu maior rigor na avaliação dos protocolos de atendimento e na capacitação das equipes.
O Impacto na Comunidade e as Deficiências do Sistema
O caso gerou grande indignação, especialmente entre os moradores da Cidade de Deus. Muitos apontaram falhas crônicas na unidade, incluindo superlotação, longas esperas e falta de preparo da equipe médica. “Isso não é um caso isolado. A diferença é que desta vez alguém morreu, e a gente não pode aceitar que mais vidas sejam perdidas”, afirmou um morador da região.
A tragédia também evidenciou a pressão sobre as UPAs, que atendem populações vulneráveis e frequentemente enfrentam escassez de recursos humanos e materiais.
A Importância da Classificação de Risco Bem-Feita
A classificação de risco é um dos pilares do atendimento de urgência e emergência. Quando bem executada, ela permite:
- Identificação Rápida de Casos Críticos: Pacientes em condições graves são priorizados, reduzindo o risco de complicações ou óbitos.
- Melhor Uso de Recursos: Garante que profissionais e equipamentos sejam direcionados a quem mais precisa.
- Redução de Erros Médicos: Minimiza o risco de subestimar ou ignorar sinais de gravidade em pacientes aparentemente estáveis.
Nesse contexto, a capacitação da equipe é indispensável. Profissionais precisam ser treinados não apenas para aplicar o protocolo, mas também para reconhecer sinais que possam indicar deterioração rápida do quadro do paciente.
Próximos Passos
A Secretaria Municipal de Saúde informou que uma sindicância foi instaurada para apurar as falhas no atendimento e rever os protocolos. Além disso, será feita uma análise detalhada dos processos de triagem e atendimento para evitar a repetição de erros semelhantes.
O caso de José Augusto é um alerta para gestores, profissionais de saúde e a sociedade como um todo. A triagem inadequada não é apenas uma falha técnica; é um fator que pode custar vidas. Melhorar os sistemas de classificação de risco e a capacitação das equipes não é apenas uma questão de eficiência, mas também de humanidade.
Essa reportagem reforça a importância de investimentos no treinamento das equipes médicas e na adoção rigorosa de protocolos como o de Manchester. É essencial que episódios como o da UPA Cidade de Deus sirvam de marco para mudanças reais no atendimento à saúde pública, garantindo um sistema mais eficiente e, acima de tudo, capaz de preservar vidas.